Atos 20, 28-38
“Sede pastores da Igreja de Deus”
Hoje a Palavra de Deus nos apresenta um dos trechos mais emocionantes dos Atos dos Apóstolos: o discurso de despedida de São Paulo aos presbíteros de Éfeso. Estamos em Mileto, e Paulo sabe que não voltará a vê-los. Suas palavras são uma mistura de exortação, testemunho e profunda ternura pastoral.
“Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu como guardas” (At 20,28).
Aqui, Paulo nos recorda que o ministério na Igreja é, antes de tudo, dom do Espírito Santo. Os bispos e presbíteros não são apenas líderes humanos; são pastores instituídos por Deus para cuidar de Sua Igreja, que Ele adquiriu com o sangue do Seu próprio Filho. Essa verdade dá ao ministério eclesial uma dignidade inestimável e uma responsabilidade tremenda.
1. Cuidar de si para cuidar do rebanho
Paulo começa dizendo: “Cuidai de vós mesmos”. Não é egoísmo, é sabedoria. O pastor que não cuida de sua vida espiritual, de sua integridade, da sua comunhão com Deus, não pode sustentar o rebanho. É necessário vigiar a própria fé, alimentar-se da Palavra e da oração, buscar a santidade para que o ministério seja fecundo.
2. Perigo dos lobos vorazes
“Sei que, depois da minha partida, surgirão entre vós lobos vorazes que não pouparão o rebanho” (v.29).
Paulo não alimenta ilusões. A Igreja enfrentará ataques externos e internos. Haverá doutrinas falsas, divisões, interesses pessoais. E é justamente aí que os pastores devem estar atentos, vigilantes, firmes na verdade do Evangelho. Não com autoritarismo, mas com zelo, amor e fidelidade.
3. Exemplo de serviço e desprendimento
“De ninguém cobicei prata, ouro ou vestes” (v.33).
Paulo recorda seu testemunho de vida. Trabalhou com suas mãos, serviu com humildade, chorou com os irmãos, não buscou lucros, mas a edificação da comunidade. Aqui está o modelo do verdadeiro pastor: servo, despojado, próximo do povo, disposto ao sacrifício.
4. A herança deixada: a Palavra da graça
“Agora vos entrego a Deus e à palavra da sua graça, que tem poder para edificar e dar a herança entre todos os santificados” (v.32).
Paulo parte, mas deixa o que é eterno: a Palavra de Deus. A Igreja se sustenta não na presença física dos seus pastores, mas na presença do Senhor e na força da Palavra que salva. Esta Palavra é nossa segurança, nosso alimento e nossa herança.
5. Uma despedida com lágrimas e oração
“Depois de falar assim, Paulo ajoelhou-se e rezou com todos eles” (v.36).
O coração do apóstolo se derrama em oração. Eles choram, se abraçam, entristecidos porque nunca mais o verão. Que testemunho de amor! É essa comunhão sincera que deve marcar a vida da Igreja: um vínculo de coração, sustentado pela fé, pelo serviço e pela oração.
Queridos irmãos, este texto nos interpela a todos: aos pastores, quanto à sua missão de fidelidade e vigilância; aos fiéis, quanto ao amor, oração e respeito para com seus líderes espirituais. Que cada um de nós, no seu estado de vida, possa cuidar com zelo da parte do rebanho que Deus lhe confiou — seja na família, na comunidade, no trabalho ou no ministério ordenado.
E que, como São Paulo, possamos um dia dizer: “Não deixei de vos anunciar tudo o que era útil para a vossa salvação” (cf. v.20).
Amém.
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