
E então, ele partiu.
Papa Francisco. Ou melhor, Francisco. Porque foi assim que ele quis ser chamado: não “o Grande”, não “o Primeiro”, apenas Francisco — como o pobrezinho de Assis, seu espelho mais puro.
Lembro como se fosse ontem aquele momento em que apareceu na sacada da Basílica. Não sorriu com grandiosidade, mas com ternura. Não falou como quem ordena, mas como quem pede licença. E pediu: “rezem por mim”. Um pedido tão humano, tão frágil, que parecia vir de um velho amigo, não de um chefe de Estado.
Francisco não precisou de ouro, de tronos, nem de discursos ensaiados. Precisou de sapatos gastos, um crucifixo de ferro no peito e a coragem de viver o Evangelho na pele. Ele não só falou de amor — ele viveu o amor. Visitou presídios, lavou os pés de imigrantes, segurou o rosto de doentes com delicadeza, olhou nos olhos de quem ninguém mais via.
Ele era o papa que andava de ônibus, que carregava a própria pasta, que comia na mesma mesa dos outros. Morava onde podia ouvir barulho de gente, não os ecos vazios dos corredores do poder.
E que poder, aliás? O único que ele parecia reivindicar era o da escuta. Escutava o mundo, as dores, os silêncios. E devolvia palavras simples, que não precisavam de tradução: misericórdia, justiça, compaixão.
Em tempos de vaidades e excessos, Francisco foi resistência viva. Uma alma livre dentro de uma estrutura pesada. Um farol de humildade em meio a tantos holofotes.
Agora ele se vai, mas não parte de verdade. Porque há legados que não morrem. Há sorrisos que ficam guardados nas entrelinhas da fé. Há gestos que ecoam — como o dele, quando abaixava a cabeça para os outros, quando se curvava diante da dor alheia.
Francisco se foi. Mas o Francisco de Assis — e agora o de Roma — continua vivo nas mãos de quem parte o pão, de quem reparte o tempo, de quem ama sem alarde.
E talvez essa seja a santidade mais difícil de todas: ser simples num mundo que valoriza o contrário.
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