A Quinta-feira Santa: Um Encontro entre Revelação, Liturgia e Teologia Sacramental

Na Quinta-feira Santa, a Igreja inicia o Tríduo Pascal e celebra a instituição da Eucaristia.

A Quinta-feira Santa inaugura o Tríduo Pascal, ápice do ano litúrgico cristão. É neste dia que os fiéis celebram dois dos maiores mistérios da fé: a instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Trata-se de um momento em que o tempo litúrgico convida à contemplação da entrega amorosa de Cristo, em antecipação ao sacrifício da Cruz.

Este artigo propõe uma leitura teológica e bíblica da Quinta-feira Santa, buscando uma compreensão integral do seu significado para a fé católica.

Fundamentos Bíblicos:

A Última Ceia

Os Evangelhos Sinópticos (Mt 26,17-30; Mc 14,12-26; Lc 22,7-38) relatam que, na noite em que foi traído, Jesus celebrou a Páscoa com seus discípulos. Durante a ceia, Ele tomou o pão e o vinho e os ofereceu como seu Corpo e Sangue:

“Tomai, comei, isto é o meu corpo.” (Mt 26,26)

“Este cálice é a nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós.” (Lc 22,20)

Este ato não foi apenas simbólico, mas performativo: institui a Eucaristia como sacramento da nova aliança, em continuidade com a tradição pascal judaica, mas com novo sentido cristológico.

O Lava-pés

O Evangelho segundo João, por sua vez, não narra a instituição da Eucaristia, mas destaca o gesto do lava-pés (Jo 13,1-17). Este gesto revela a dimensão do serviço e da humildade como essência do ministério de Cristo e, por consequência, do ministério sacerdotal.

“Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros.” (Jo 13,14)

Este gesto, profundamente teológico, antecipa o modo como o amor de Cristo se manifesta: no serviço e no dom total de si mesmo.

Dimensão Sacramental

A Quinta-feira Santa é essencialmente sacramental. Com a instituição da Eucaristia, Cristo oferece à Igreja um memorial perpétuo de sua paixão, morte e ressurreição (cf. 1Cor 11,23-26). São Paulo, na sua primeira carta aos Coríntios, reafirma a centralidade da Eucaristia como o coração da vida cristã e litúrgica.

Além disso, ao dizer “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19), Jesus não apenas institui um rito, mas confere uma missão: nasce aqui o sacerdócio ministerial, pelo qual a Igreja perpetua sua presença sacramental no mundo.

Teologia Litúrgica

A celebração da Missa da Ceia do Senhor na Quinta-feira Santa é rica em símbolos: o uso do branco litúrgico, o canto do Glória (que se silenciará até a Vigília Pascal), o rito do lava-pés e a transladação do Santíssimo Sacramento para o altar da reposição são elementos que expressam a solenidade e a tensão entre a luz da entrega e a sombra da traição.

Este rito nos insere no mistério pascal, fazendo-nos participantes da Ceia do Senhor e da expectativa da Cruz. A liturgia não apenas recorda um evento passado, mas torna presente a graça que dele emana.

A Quinta-feira Santa é, simultaneamente, memória, presença e antecipação. A partir da Sagrada Escritura, compreendemos que este dia inaugura os eventos centrais da redenção humana. Nele, Jesus se entrega no pão e no vinho, ensina a servir, e institui os meios sacramentais pelos quais a Igreja vive e comunica a salvação.

Neste sentido, a Quinta-feira Santa não é apenas uma data litúrgica, mas uma porta para o mistério da fé, onde a Palavra se torna Carne, e o amor se faz serviço.

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