Domingo de Ramos na Teologia Greco-Melquita: Uma Porta para a Glória da Cruz

A celebração do Domingo de Ramos marca o início solene da Semana Santa.

O Domingo de Ramos, também chamado de Domingo da Hosana, é celebrado com profunda reverência na Igreja Greco-Melquita Católica, marcando o início solene da Semana Santa. Ele comemora a entrada triunfal de Nosso Senhor Jesus Cristo em Jerusalém, um momento que, à luz da teologia oriental, revela a profunda união entre a glória do Reino e o mistério da Cruz.

Fundamento Bíblico

O relato da entrada de Jesus em Jerusalém está presente em todos os quatro Evangelhos:

  • Mateus 21,1-11
  • Marcos 11,1-11
  • Lucas 19,28-44
  • João 12,12-19

Cristo entra montado em um jumentinho, cumprindo a profecia de Zacarias 9,9:

“Exulta de alegria, filha de Sião! Eis que teu Rei vem a ti, justo e vitorioso, humilde, montado num jumento, num jumentinho, cria de jumenta.”

As multidões O acolhem com ramos de palmeira, clamando:

“Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!” (cf. Salmo 118,26; João 12,13)

Teologia Greco-Melquita: A Realeza Humilde de Cristo

Na tradição bizantina da Igreja Greco-Melquita, esta celebração é muito mais do que uma simples recordação histórica. Ela expressa a teologia da kenosis (vazio de si mesmo) de Cristo — um tema profundamente presente na espiritualidade oriental. A entrada de Jesus em Jerusalém não é um ato de poder humano, mas um sinal de Sua humildade divina, uma manifestação do “Rei da Glória” que se dirige voluntariamente à paixão e à morte por amor à humanidade.

A liturgia deste dia, riquíssima em hinos e troparia, nos apresenta Cristo como o Rei-Messias, mas também como o Servo Sofredor. O Domingo de Ramos, portanto, é uma antecipação paradoxal: os louvores do povo prefiguram a vitória da Ressurreição, mas apontam diretamente para a paixão iminente.

Simbolismo Litúrgico

Durante a Divina Liturgia, os fiéis recebem ramos de palmeira ou de oliveira, que são abençoados e erguidos em sinal de júbilo e entrega. A tradição oriental costuma também incluir procissões com os ramos, entoando hinos como o “Hosana ao Filho de Davi”, em profunda reverência e esperança escatológica.

O ícone do Domingo de Ramos mostra Jesus montado no jumentinho, com crianças e adultos lançando seus mantos e ramos pelo caminho — um ícone que nos convida a preparar o coração como estrada para o Rei que vem. A criança que segura um ramo no ícone representa a pureza da alma que acolhe o Cristo sem reservas.

Interpretação Cristológica e Escatológica

Na visão melquita, o Domingo de Ramos antecipa não apenas a paixão, mas também a segunda vinda de Cristo. O Senhor entra hoje em Jerusalém — a cidade terrestre —, mas nos conduz à Nova Jerusalém (Apocalipse 21), onde Ele reinará eternamente. Os ramos são símbolos da vitória messiânica e da fé daqueles que reconhecem o verdadeiro Rei.

Ao aclamar “Hosana”, os fiéis reconhecem o Messias prometido, aquele que liberta não com espada, mas com a oferta de Si mesmo na Cruz. A tradição oriental vê nessa aclamação uma oração litúrgica: “Hosana” significa “Salva-nos, por favor”, um clamor escatológico por salvação e redenção.

Para a Igreja Greco-Melquita Católica, o Domingo de Ramos é uma porta aberta ao mistério pascal. É o início da jornada final de Cristo rumo à Cruz e à glória. Pela Sagrada Escritura, ícones e liturgia, os fiéis são chamados a seguir o Senhor com os ramos da fé e os mantos da humildade, reconhecendo-O como o Rei que reina do trono da Cruz.

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