Homilia de sua Beatitude no sufrágio pela alma do Papa Francisco

Patriarca Youssef Absi I em sua homilia em Damasco.

Damasco, Catedral de Nossa Senhora da Dormição, 2 de maio de 2025

“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em toda a nossa tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem em qualquer tribulação, com a consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus” (2Cor 1:3-4).

Com estas palavras do apóstolo Paulo aos coríntios, consolamo-nos mutuamente, queridos irmãos, pela partida de Sua Santidade o Papa Francisco para as moradas celestiais, elevando por sua alma esta Divina Liturgia que celebramos. Nossa consolação se intensifica ao saber que Sua Santidade, seguindo os passos de Cristo que sofreu, morreu e ressuscitou, passou cerca de dois meses em sofrimento antes de partir para o seio do Pai na manhã do segundo dia após a Ressurreição do Senhor Jesus, ressuscitando com Ele e entoando: “Cristo ressuscitou dos mortos, vencendo a morte com a morte, e concedendo vida aos que estavam nos túmulos”.

A imagem de Cristo que se refletiu no Papa Francisco é aquela que o próprio Jesus descreveu aos seus discípulos: “Quem quiser ser o maior entre vós, seja vosso servo… Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20:26-28). É a imagem do servo. Ele buscou resgatar essa imagem do Evangelho, afastando-se do luxo e da ostentação, aproximando sua administração mais à de um abade do que à de um chefe de Estado como o Vaticano. Desde o início, soube implementar essa abordagem, seja pela escolha do nome Francisco, associado à pobreza, seja pela mudança de sua residência, ou pela proximidade com os fiéis e seu contato direto com eles, não apenas através do clero e das instituições vaticanas. Especialmente, a escolha do nome “Francisco”, Francisco de Assis, foi uma declaração clara e direta do programa e estilo de seu pontificado.

Muitos colocaram o Santo Padre Francisco na categoria dos reformistas em oposição aos tradicionalistas, mas sua luta não era entre esses dois grupos, mas contra aqueles que se afastaram do espírito do Evangelho, de um lado ou de outro. Para ele, a renovação significava retornar à frescura do Evangelho. Por isso, desejou abrir as portas para todos, e a palavra-chave que repetia era “todos, todos, todos”. Convidou a Igreja a sair, a evangelizar, a abrir suas portas e ir às “periferias”, onde a necessidade de luz é maior. Enfatizou que somos irmãos em uma casa comum, que a criação é uma responsabilidade em nossas mãos, e que a paz não é um desejo, mas uma ação e responsabilidade.

Nossos países árabes ocupavam um lugar especial no coração do Papa Francisco. Ele os visitou várias vezes e, a partir deles, lançou a fraternidade humana, acreditando que o cristianismo é abertura e amor ao próximo. Enfrentando o que chamou de “cultura da exclusão”, convidou à “cultura do encontro” e “cultura da solidariedade”. O tema da fraternidade esteve fortemente presente em seu pontificado, especialmente em sua encíclica “Fratelli Tutti”, onde expressou sua aspiração por uma fraternidade global baseada no fato de que todos somos filhos do Pai Celestial.

Ao contemplar a personalidade do falecido Papa Francisco, torna-se evidente que ela foi uma figura marcante que suscitou profundas questões dentro e fora da Igreja, especialmente sobre o futuro da Igreja, pois o Papa é o sucessor do apóstolo Pedro em Roma, a quem o Senhor disse: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. Mas o Senhor Jesus acrescentou: “E as portas do inferno não prevalecerão contra ela”, porque, como diz o apóstolo Paulo aos efésios, embora seja “edificada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas”, “Cristo Jesus mesmo é a principal pedra de esquina, no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Ef 2:20-21). Portanto, não há temor pela Igreja, e hoje todos nós esperamos que o Pastor dos pastores, Jesus Cristo, envie à sua Igreja um novo pastor, um novo Papa, que a conduza à segurança, ao porto tranquilo, um sumo pontífice inspirado pelo Espírito Santo, o Espírito da verdade que guia sua Igreja a toda a verdade, como nos disse o Senhor Jesus (Jo 16:13).

Em nome de Sua Excelência o Núncio Apostólico na Síria, Eminência Cardeal Mario Zenari, em nome do Conselho dos Chefes das Igrejas Católicas na Síria, e em meu nome pessoal, agradeço a todos por sua participação nesta liturgia, pedindo a Deus que console nossos corações com a consolação que vem Dele, e rogando pelo descanso eterno do falecido Papa Francisco, entoando com vocês: “Que sua memória seja eterna”. Amém.

Confira outras publicações sobre nosso Patriarca

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Homilia – 4º Domingo após a Páscoa

Evangelho: João 5, 1-15 – A cura do paralítico em Betesda Amados irmãos e irmãs em Cristo, Neste 4º …

Patriarca Youssef Absi saúda o Papa Leão XIV

O Patriarca Youssef I Absi, Patriarca de Antioquia e de todo o Oriente dos Greco-Melquitas Católicos…

Comentário sobre o Discurso Inaugural do Papa Leão XIV.

O discurso do Papa Leão XIV, marcado por uma linguagem terna, pastoral e simbólica, é uma profunda m…

Papa Leão XIV: Da Ordem de Santo Agostinho à Cátedra de São Pedro

A Santa Igreja tem um novo sucessor de Pedro: o cardeal norte-americano Robert Francis Prevost Martí…

Mensagem para o Dia das Mães

Queridas mães, Neste Dia das Mães, desejo me dirigir a cada uma de vocês com palavras de profundo ca…

Mensagem a Sua Santidade, o Papa Leão XIV

Mensagem de Boas-Vindas a Sua Santidade o Papa Leão XIV, por ocasião de sua eleição ao Sólio Pontifí…