
Evangelho: João 9,1-38
“Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9,5)
Amados irmãos e irmãs em Cristo,
Neste sexto Domingo de Páscoa, a Igreja nos apresenta a luminosa figura do cego de nascença, cuja cura por Cristo revela não apenas um milagre físico, mas a mais profunda iluminação da alma humana.
Vemos no Evangelho de hoje não apenas um homem que foi curado, mas um caminho de fé que se desenvolve: da escuridão total ao reconhecimento de Jesus como Filho de Deus. Esta narrativa é uma catequese pascal, uma iniciação ao mistério da iluminação – que é exatamente o sentido da palavra “Batismo” na tradição da Igreja: photismos, ou seja, iluminação.
Cristo vê o cego. Ele o vê antes mesmo de ser pedido, pois Deus vê o sofrimento oculto do coração humano. E, ao contrário dos discípulos, que perguntam “quem pecou?”, Jesus responde com firmeza: “Nem ele nem seus pais; mas isso aconteceu para que nele se manifestem as obras de Deus”. Com isso, o Senhor nos ensina que o sofrimento humano pode se tornar lugar de manifestação da glória divina.
Jesus cospe na terra e faz lama — gesto que recorda a criação do homem em Gênesis, quando Deus modela Adão do barro. Aqui, o Criador toca novamente sua criatura e a recria. Ele envia o cego à piscina de Siloé — que significa “Enviado”, símbolo do próprio Cristo. O cego, obedecendo, lava-se e volta vendo.
Este é o percurso do cristão: somos cegos espirituais, mas Cristo nos toca, nos envia e nos lava com a água do batismo e da Palavra, para que possamos enxergar com os olhos da fé. Não é apenas uma cura: é um novo nascimento.
Mas o milagre provoca escândalo. Os fariseus, cegos pela dureza do coração, recusam-se a ver a luz. Interrogam, investigam, rejeitam. Já o cego curado vai crescendo na fé: primeiro diz que foi um homem, depois o chama de profeta, e finalmente, quando encontra Jesus de novo, o adora. Ele faz o caminho da iluminação até a adoração.
A tradição bizantina honra este homem como símbolo de todos nós, iluminados por Cristo. Este Domingo é chamado “Domingo do Cego”, e nos prepara para a Ascensão, pois o Senhor, que abriu os olhos do cego, quer agora abrir os olhos da Igreja para ver o céu.
Queridos irmãos, estamos nós dispostos a reconhecer nossa cegueira? Ou preferimos a cegueira confortável dos fariseus? Cristo nos chama a abrir os olhos com coragem, a permitir que Ele nos lave e nos envie, para que possamos adorá-lo em espírito e verdade.
Neste tempo pascal, deixemos que a luz do Cristo ressuscitado penetre em nossas trevas. E que com o ex-cego possamos proclamar com fé e alegria: “Creio, Senhor!”, e o adoremos.
A Ele, luz verdadeira, glória pelos séculos dos séculos. Amém.
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