Evangelho: João 4,5-42
“Quem beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede” (Jo 4,14)
Amados irmãos e irmãs em Cristo,
Hoje, neste quinto Domingo de Páscoa, a santa Igreja nos convida a subir mais um degrau na escada da ressurreição, iluminados pelo encontro entre nosso Senhor e a mulher samaritana junto ao poço de Jacó.
Neste Evangelho profundo e simbólico, encontramos o Senhor cansado da viagem, sentado junto ao poço ao meio-dia — a hora do calor, da sede e da revelação. É ali que Ele se encontra com uma mulher marginalizada por sua origem e por seu passado. Mas é justamente ali, nesse lugar de exclusão, que se manifesta a misericórdia de Deus. A sede de Cristo não é apenas física: é sede de almas, sede da salvação daquele coração ferido.
Cristo inicia o diálogo pedindo água, mas na verdade Ele é quem tem a Água Viva. Ele se revela lentamente: primeiro como um homem judeu, depois como profeta, e finalmente como o Messias. A pedagogia divina é paciente e pessoal. Ele não a condena, mas a atrai à verdade. O poço é símbolo do coração humano: profundo, sedento, mas muitas vezes cheio de histórias e feridas. Cristo quer purificar esse poço com a água do Espírito.
A mulher samaritana, ao reconhecer o dom de Deus, deixa o cântaro — aquele antigo símbolo de sua vida passada — e corre à cidade para anunciar o Cristo. Ela se torna, como os apóstolos, uma portadora da Boa Nova. E assim, de pecadora, se transforma em missionária.
Na tradição bizantina, essa mulher tem nome: Santa Fotina, a iluminada. Ela é celebrada como mártir e igual-aos-apóstolos, pois acolheu a luz de Cristo e a espalhou. Eis o poder da conversão pascal!
Queridos irmãos, o poço está diante de nós. Também temos nossos cântaros: nossos pecados, vaidades, hábitos antigos. Mas Cristo nos espera. Ele nos pede de beber para nos dar a Água Viva do Espírito. Ele transforma nossa vergonha em missão, nossa fraqueza em graça, nossa história em testemunho.
Neste tempo pascal, deixemos que a Luz da Ressurreição brilhe em nossos poços interiores. A Liturgia nos convida hoje a beber dessa água que jorra para a vida eterna. Que como Santa Fotina, também nós possamos anunciar: “Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não seria Ele o Cristo?”
A Ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém.
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