
O Sábado de Lázaro, celebrado no sábado que antecede o Domingo de Ramos, é uma festa profundamente significativa no calendário litúrgico da Igreja Greco-Melquita Católica. Ela marca a transição da Grande Quaresma para a Semana Santa, e sua importância teológica vai além de um simples milagre: é uma manifestação da glória de Cristo e um anúncio profético de Sua própria Ressurreição.
Fundamentação Bíblica: João 11,1-44
O relato da ressurreição de Lázaro, conforme narrado no Evangelho de João, capítulo 11, é o centro espiritual e teológico desta celebração. Lázaro, amigo íntimo de Jesus e irmão de Marta e Maria, morre e é sepultado por quatro dias. Quando Jesus chega a Betânia, Marta proclama sua fé na ressurreição futura, ao que Jesus responde:
“Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11,25).
Com essa declaração, Jesus revela não apenas um dom que Ele concede, mas a Sua própria identidade divina. Ao ressuscitar Lázaro, Ele antecipa Sua vitória definitiva sobre a morte.
A Teologia Melquita: Sinais, Tipos e Realidades
A teologia oriental, como é vivida e ensinada na Igreja Greco-Melquita, vê nos eventos da vida de Cristo tipos e sinais sacramentais que revelam a economia da salvação. O Sábado de Lázaro é compreendido como uma teofania — uma manifestação da glória de Deus que prepara os fiéis para a Páscoa.
Segundo os Padres da Igreja, especialmente São João Crisóstomo e São Gregório de Nazianzo, a ressurreição de Lázaro não é apenas um milagre, mas um sinal escatológico: ela antecipa a ressurreição de todos os mortos no último dia. Lázaro torna-se, assim, imagem da humanidade caída, chamada à vida nova em Cristo.
Além disso, Lázaro, saindo do túmulo com os panos mortuários ainda atados, é símbolo de quem foi libertado da morte mas ainda aguarda a plenitude da ressurreição que só será realizada com a Páscoa de Cristo.
O Mistério da Compaixão e da Divindade
Um dos aspectos mais tocantes deste episódio é a humanidade de Cristo, expressa na frase curta e densa:
“Jesus chorou” (Jo 11,35).
A Igreja Greco-Melquita vê neste gesto uma profunda revelação do amor de Deus encarnado. Cristo, sendo verdadeiro Deus, também é verdadeiro homem; Ele participa da dor humana, chora com os enlutados, mas ao mesmo tempo, com um brado de autoridade, ordena à morte que solte sua presa:
“Lázaro, vem para fora!” (Jo 11,43)
Neste comando está o coração do Sábado de Lázaro: o poder de Cristo sobre a morte, e a promessa de vida eterna para todos os que n’Ele crêem.
Liturgia e Espiritualidade Melquita
Na espiritualidade bizantina, este sábado é considerado um dia de alegria antecipada, mesmo no contexto da Quaresma. Os hinos litúrgicos proclamam a vitória de Cristo sobre a morte como prelúdio da Páscoa. O tom é de triunfo: a morte começa a ser vencida antes mesmo da Cruz.
O Troparion do dia canta:
“Confirmando a ressurreição universal antes da Tua Paixão, ó Cristo Deus, ressuscitaste Lázaro dos mortos. Por isso, também nós, como as crianças, levando os ramos da vitória, clamamos a Ti: Hosana ao que vem em nome do Senhor.”
Este hino expressa o mistério da fé pascal: a morte é vencida não apenas no futuro, mas já agora, na presença do Senhor da vida.
O Sábado de Lázaro como Anúncio da Vida
Para a Igreja Greco-Melquita, o Sábado de Lázaro não é apenas memória de um milagre do passado, mas uma profecia viva. É um convite à fé em Jesus Cristo como Aquele que tem poder sobre a morte, e que nos chama à vida verdadeira. Lázaro representa cada um de nós: chamados das trevas para a luz, da morte para a vida, da tristeza para a alegria da ressurreição.
Neste espírito, a Igreja se prepara para entrar com esperança e reverência na Semana Santa, pois aquele que chamou Lázaro do túmulo é o mesmo que nos chama à vida eterna.
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